"Ele perguntou-me num inglês laranja ferrugem:
-Quem é o primeiro ministro e presidente de Portugal?
Eu respondi:
-José Sócrates e Cavaco Silva.
Eu perguntei:
-E daqui?
Ele, debruçando-se sobre a mesa, encolheu os ombros e num tímido sussurro respondeu:
-Ben Ali."
Escrevi isto há quase dois anos, num outro blogue, depois de uma estadia na Tunísia. À conversa com alguém surgiu o clandestino tema do Estado-ditadura que vigorava, o que, pela primeira vez na vida e em primeira mão, expôs-me à tónica da liberdade de expressão dum modo abrasivo e, felizmente, hoje em dia pouco comum. A maneira como o nome foi pronunciado fez-me, alegoricamente, compreender um pouco o que poderá ter sido viver os anos de ditadura em Portugal. A queda de mais um Estado opressor é motivo de congratulação, não só para qualquer país que tenha sido sujeito a semelhante sorte, mas também para todo o país respeitador dos direitos fundamentais do Homem.
Ainda que a custo de sangue derramado, nenhum Estado poderá ter mais poder do que a força civil.
