Há «dentes» a comer «paciência».
Há «linhas» a tragar «comboio» e ainda a soltar «locomoção».
E «flores» a comer a última sílaba de «irmãos».
Há «mãos» a mordiscar os i’s de «vácuo» e a arrotar a «vazio».
Há «arroz» a trincar as vogais de «mar» e a ficar com fome.
E «milhafres» a engolir «amor» e a regurgitar «Roma».
Há «respeito» a engasgar-se com «rés» e a deixar como restos «peito».
Há «silêncio» a empanturrar-se de «ruído» enquanto «rosas» faz a digestão.
E «saudade» a jantar «distâncias» com faca e garfo.
Há «peixes» sorvendo «sono» e a cuspir as espinhas de «sonhos».
Há «cães» roendo «esófagos» e a não deixarem «ossos».
E «perdizes» a mastigar «sapatos» com dificuldade.
Há «relógios» a petiscar «Tempo» mal passado.
Há «palatos» a saborear «língua» em carne viva.
E «antropófagos» a comer «orquídeas» ainda em sangue.
Há «discernimento» a comer «ódio» que de barriga cheia de «rins», «rum» e «rúcula» morre na embocadura do discernimento.
E a «semântica» a ser engolida viva pelas bocarras de «palavras».