Por já não ter medo da morte dobrou a primeira esquina que encontrou.
O cigarro, ofegante, devolvia-lhe agora a calma que há muito se tinha esquivado pelas pernas apressadas. A epifania. Estremeceu.
De que é que vale tentar fugir da cidade correndo pelas suas próprias ruas? Escorrega-se do lancil para a sarjeta junto com outros lixos urbanos num desses dias chuvosos de Novembro, e é-se engolido quase na totalidade, ficando apenas o pé esquerdo de fora. Os outros passam e espantam-se com a sola gasta do sapato. É absurdo. Ficar assim de cabeça para baixo dificulta a respiração e os canais de escoamento - não sei se têm essa noção - são habitados pelas criaturas mais asquerosas. Ratos (roem rolhas e fazem ninhos luxuosos com as notas que roubam dos salários), baratas (só vão aos restos mais caros), empregados da Emel (às vezes distraídos escorregam do lancil para a sarjeta e ficam ali retidos durante décadas, não há quem lhes bote a mão), Dj's cocaínados (nem o pé esquerdo fica de fora), e por aí a diante. De que vale fugir? De que vale correr? Às vezes, disfarçadamente, corre-se com passos vagarosos, diz-se bom dia por conveniência, encara-se o chão tristemente, escarra-se o chão tristemente, sempre a tentar fugir dessa sombra gigante. Por mais astuto que se seja acaba-se sempre na imundice dos ratos, baratas, empregados da Emel e Dj's cocaínados.
Ainda a tentar recuperar o fôlego de vinte e tais anos de fuga, encostou-se à parede suja, apagou o cigarro sob o sapato de sola gasta. Ali mesmo decidiu não mais fugir, encarar sempre as caras em vez do chão, escarrar se o for necessário. Não obedecer às conveniências, não ter medo da sombra gigante, ter consciência que se acaba sempre com o pé esquerdo de fora, exibindo a sola gasta, com a cabeça mergulhada em ratos, baratas, empregados da Emel e Dj's cocaínados.
Ali mesmo descalçou os sapatos de sola gasta e partiu vagarosamente para outra cidade.
De que é que vale tentar fugir da cidade correndo pelas suas próprias ruas? Escorrega-se do lancil para a sarjeta junto com outros lixos urbanos num desses dias chuvosos de Novembro, e é-se engolido quase na totalidade, ficando apenas o pé esquerdo de fora. Os outros passam e espantam-se com a sola gasta do sapato. É absurdo. Ficar assim de cabeça para baixo dificulta a respiração e os canais de escoamento - não sei se têm essa noção - são habitados pelas criaturas mais asquerosas. Ratos (roem rolhas e fazem ninhos luxuosos com as notas que roubam dos salários), baratas (só vão aos restos mais caros), empregados da Emel (às vezes distraídos escorregam do lancil para a sarjeta e ficam ali retidos durante décadas, não há quem lhes bote a mão), Dj's cocaínados (nem o pé esquerdo fica de fora), e por aí a diante. De que vale fugir? De que vale correr? Às vezes, disfarçadamente, corre-se com passos vagarosos, diz-se bom dia por conveniência, encara-se o chão tristemente, escarra-se o chão tristemente, sempre a tentar fugir dessa sombra gigante. Por mais astuto que se seja acaba-se sempre na imundice dos ratos, baratas, empregados da Emel e Dj's cocaínados.
Ainda a tentar recuperar o fôlego de vinte e tais anos de fuga, encostou-se à parede suja, apagou o cigarro sob o sapato de sola gasta. Ali mesmo decidiu não mais fugir, encarar sempre as caras em vez do chão, escarrar se o for necessário. Não obedecer às conveniências, não ter medo da sombra gigante, ter consciência que se acaba sempre com o pé esquerdo de fora, exibindo a sola gasta, com a cabeça mergulhada em ratos, baratas, empregados da Emel e Dj's cocaínados.
Ali mesmo descalçou os sapatos de sola gasta e partiu vagarosamente para outra cidade.