Começo a ler coisas académicas, bem recheadas, gordas, vindas da mais fina
intelligentsia francesa. Há logo uma certa atitude de descrença em relação à tese, ao tema. Essa maltinha dos anos 60 acha-se muito capaz de desconstruir, de desconfigurar, de se armar ao pingarelho. Uma rebeldia pacóvia de puto dos anos zero impele-me a tentar refutar a teoria, ridicularizá-la, esfrangalhá-la, despi-la na praça e fazer chacota dela. Passadas duas ou três páginas, o estilo da escrita admoesta-me, a densidade apequena-me. Fico dócil, receptivo, apaixonado. A teoria entra, mastigo-a sem dizer não, engulo-a avidamente. Arroto com satisfação.