quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Do alto do bairro para o fundo da noite

A noite chove em nós com palpitantes chamamentos à loucura. E nós, sedentos e sediciosos, corremos aos chamamentos com loucura nos olhos e espuma na boca. E a espuma da cerveja do copo para a boca. E a boca do alto do queixo para o chão. E a cabeça, pesada e despedaçada, a gravitar nos joelhos dos outros. E as massas excitadas afluem àquelas ruas sujas e vomitadas, onde nem porcos ousariam pisar. Onde nem vómitos ousariam afluir à boca do porco, para não caírem no chão. E há carnes embebidas em álcool. Para preservar a folia, dizem.
E há carnes que, por estarem embebidas em álcool, revelam demasiado a sua natureza. E há carnes a fazerem convites selvagens, por revelarem demasiado a sua natureza. E alguém ri-se. E alguém chora. E alguém sente o frio incómodo de uma lâmina. E há sangue a escorrer nos paralelos ao som de um hit merdoso qualquer ou, provavelmente, a esgueirar-se da cacofonia das vozes de um merdoso karaoke.