quarta-feira, 13 de abril de 2011

Matutinário

Mortalha a cair sobre o corpo
Corpo nu que se perde na noite
Hálito da ausência a ficar suspenso no ar
Sono irritado ao abandono da fronha
Tecto a engolir o colchão por dentro
Sonho de tintas a entrar pelo nariz
e a escrever linhas no cérebro
Tecto a irritar a carne na mortalha
Tinta a escorrer da carne para o tecto
Tiro certeiro na cabeça do hálito suspenso
Corpo quente e estremunhado de olhos
abertos a reparar nas rachas do tecto
Almofada abandonada a engolir a cabeça do corpo
Hálito suado a tingir as rachas do tecto
Braços a caminhar nos meandros da fronha
Sonho disparado pela suspensão do hálito
Corpo cortado na mortalha vazia

Quarto despido a cair sobre o colchão
Noite quente que se perde no corpo nu
Ar a ausentar-se do hálito do quarto suspenso
Fronha a abandonar o sono irritado
O interior do colchão a engolir o tecto
Cérebro a entrar pelo nariz e a
sonhar linhas escritas a tinta
Mortalha irritada a lançar a carne no tecto
Tecto a escorrer carne para a tinta
Cabeça suspensa pelo tiro do hálito
Rachas quentes do corpo a entrar pelos
olhos abertos do tecto estremunhado
Cabeça engolidora a abandonar o corpo na almofada
Suor do tecto a rachar o hálito tingido
Fronhas caminhantes nos meandros dos braços
Disparo suspenso pelo hálito sonhado
Mortalha a cortar o corpo vazio