Quando, não frequentemente, me deito no sofá há uma sensação estranha de afago. Sinto as fibras do estofado a acariciar-me o corpo todo como uma lambidela, numa dedicação quase sexual. Então, se o aqueço com a minha presença por um período de tempo considerável, começa-me a sugar para o seu interior. Há um deslizar involuntário do meu corpo inerte para o abismo que separa o assento do encosto - e fico ali recluso, sabe Deus quanto tempo, no meio de moedas perdidas e cotão - num movimento que me afasta do mundo que há para lá do universo do sofá.