terça-feira, 30 de agosto de 2011

Quero já uma violência extrema contra os hábitos ridículos da sociedade.

Quero que tudo se abale e fique de pernas para o ar. Ou sem pernas, até seria melhor, para não haver a estúpida capacidade-tarefa de cirandar pelas ruazinhas estúpidas desta cidade estúpida que nos entope a mente com lixo supérfluo e ultra-moderno.

Quero já uma violência extremamente severa contra as novas tecnologias, que afinal de contas já não são tão novas. Todo esse ruído demoníaco das maquinetas pseudo-inteligentes e, segundo nos dizem os expertos, muito muito úteis para vida do cidadão abafa a voz interior de cada um de nós. E o que é feito afinal? Avante com manifestações públicas de pseudo-afecto em espaços panópticos devidamente vigiados pelos olhares ocos dos outros e lambidelas ao ego que sabe bem e atenua a dor que é sermos tão vazios. Já não nos escutamos, temos medo do que possamos ouvir de nós mesmos, temos a alma silenciada e estar em silêncio é incómodo e o silêncio dos outros é para nós avassalador. Claras evidências do estiolamento do Ser Humano enquanto ser humano, deixámos de nos conhecer.

Andamos zombies-formigas a percorrer carreirinhos (muito pequenos mesmo) uns atrás dos outros, a carregar migalhinhas de um lado para o outro para amontoar nos celeiros e nos bancos que fazem pão-de-ló com essas migalhinhas, e ao fim do dia não há côdea que se roa mas há televisores e internet e telemóveis e boa tecnologia barata, e quê mais? Conforto na parcimónia intelectual.

Andamos a acarretar com o que nos dizem os elevados, os inteligentes, os Übermensch e muito caladinhos a pagar tributo a quem nos rouba. Andamos a ser lagartas-de-pinheiro com as caras muito felpudas coladas aos cus muito felpudos dos que estão à nossa frente, a formar fileiras, a percorrer um caminho, tudo muito certinho, pensamos nós com a nossa vista de curto alcance. Mas marchamos lentamente numa estrada de trânsito intenso e vamos acabar esborrachados no asfalto. Secos no alcatrão a meter nojo a quem passa. Que lindo.