segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Rádio-Bus
Para se actualizar involuntariamente a nível do cânon pop actual, nada melhor que uma viagem de autocarro de 3 horas e meia. Aquilo é-nos espetado à bruta pelos tímpanos adentro uma atrás da outra, e pronto, como não há por onde fugir, somos obrigados a ouvir, com todas as letrinhas, o que a telefonia nos oferece. Já tentei de tudo. Não há escapatória. Usar phones e tentar ouvir música ao mesmo tempo resulta sempre numa cacofonia Rihanna/psych/noise, que até é interessante, mas desaconselhável para quem vai em movimento; o senhor condutor, muito orgulhosamente, roda o volume num sorriso de serviço público. Não é, caro senhor condutor. Não é. Tentar dormir é um acto imprudente; os sonhos são sempre um misto de David Lynch, reclames publicitários duvidosos e Morangos com Açúcar. Ir para a casa de banho, abafa levemente o som, nunca o eliminado totalmente, mas cheira mal e é um desafio tentar nos manter de pé dentro dum cubículo daqueles em movimento sem tocar em nada. Corre sempre mal, e da pior maneira possível. Próximo passo: obrigar o senhor condutor, à força de arma de fogo, a silenciar o dispositivo ou a coisa corre mal. A coisa corre mal...