terça-feira, 25 de novembro de 2014

Há cem anos é que era

Eu até gostava de ser imortal,
mas ia ser um bocado chato
para os outros. E para mim, claro.
Um velho do Restelo com muito do que falar,
e que respeitinho há que havê-lo,
e que há cem anos é que era.
E que ainda me lembro dos computadores,
e das pessoas terem cartões de crédito.
Mas isso agora também não interessa
porque ninguém é imortal.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Para ser-se um estudante
há que ter um ar pedante.
Falar da tosse do artista
é sempre dar fogo de vista.
Nem toda a filosofia
eu venha a saber um dia
para não ser um cidadão
que encara a vida no chão.
Vale mais é cavar terra
que é um teste que não se erra.


2012

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Acho uma falta de inteligência este tipo de manifestações: "Acho uma falta de inteligência este tipo de manifestações.", já tenho manifestado enquanto cidadão a minha repulsa e alguma pena que isto aconteça: "Já tenho manifestado enquanto cidadã a minha repulsa e alguma pena que isto aconteça". Ou como ser literário com Margarida Rebelo Pinto.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Paulinho


Portas, o folião
aproveitou a ocasião
para fazer as maletas
e apresentar demissão.

É um animal político
a quem acabou o cio.
Os ratos são os primeiros
a abandonar o navio.

Agora diz que não gosta
da situação das finanças
Mas é nestas diferenças
que vemos as semelhanças.

Assim se revela o magano
com o seu ar bronzeado.
É mais um cair de pano
neste governo falhado.

terça-feira, 11 de junho de 2013

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Tozé era um puto empreendedor que vendia aos amigos horas de tontaria e riso em forma de barrinhas castanhas. Tal como o Martim, recebia o produto do estrangeiro, aplicava-lhe a sua estampa e não passava factura. Não tinha Facebook nem ia ao Prós e Contras, mas o certo é que os seus lucros eram substancialmente maiores do que o do Martim. Portugal está cheio de empreendedores, get over it.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Não entendo o que é que o Hidróxido de Potássio tem de chato.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Comigo não fazem canoas

Há uma anedota que vai assim:
Um inglês, um alemão e um português estão na selva a caçar e são apanhados por uma tribo canibal.
Antes de irem à faca, o chefe explica-lhes que eles lá na tribo têm uma excelente capacidade de gestão de recursos e boas práticas económicas.
- Nós aqui, não desperdiçamos nada, aproveitamos tudo das nossas presas. Tiramos a pele para fazer canoas, comemos a carne e usamos os ossos para fazer ornamentos e utensílios de cozinha. Mas temos alguma noção de piedade, por isso vamos conceder-vos um desejo a cada um antes de morrerem.
O inglês pede um grande banquete. É-lhe cedido e morre. O alemão pede uma noite com uma jovem. É-lhe cedido e morre. O português pede um garfo. Todos se espantam com tal pedido, mas dão-lhe um garfo.
- Então meu jovem incauto, porquê esse pedido disparatado? - pergunta o chefe da tribo.
O português começa a espetar-se com o garfo ao longo do peito e da barriga, e grita: Ai queriam canoas, meus animais! COMIGO NÃO FAZEM CANOAS!

Pois bem, o que me parece é que há demasiadas tribos canibais a querer fazer canoas em Portugal. E não havendo garfos, ou não havendo coragem para os usar, cá se vão fazendo canoas.



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Passear o meu smart casual pelos centros comerciais.

Vou estudar muito a profissão,
que é para ser alguém na vida.
E ser um homem respeitável,
uma pessoa bem sucedida.
Ter uma mulher que goste
do meu carro familiar alemão,
que cheira a couro por dentro
e dá os duzentos em menos de nada.
Vou contrair os empréstimos certos,
para pagar, com todas as horas
do meu trabalho, os juros
e o crédito cedido.
Ter dinheiro em acções e investimentos na banca,
para um futuro cheio de coisas.
E alegria, claro.
Vou ter muitos ternos, todos
muito iguais, e ao fim de semana
passear o meu smart casual
pelos centros comerciais.
Com as mãos cheias
de sacos de papel escuro,
cheios de malha boa
e after shaves caros,
para umas imponentes queixadas,
bem luzídias.
Comprar sempre revistas masculinas,
ter lugar cativo na bola,
e não faltar à suadeira do ginásio,
para limpar as ocasionais bebedeiras
de wiskey velho e cheiro a striptease.



terça-feira, 2 de abril de 2013

Van Gogh sofria de epilepsia, xantopsia, esquizofrenia e transtorno bipolar de humor. Eu, que não sofro nada disso, só não corto uma orelha porque não tenho tesouras em casa.

Impulso Jovem

Ora bem, Miguel Relvas não trai a sua inteligência.
Miguel Gonçalves não trai a sua capacidade de fazer contas; que é nula, parece-me. Conseguir 100 euros por mês a vender pipocas parece-me algo possível, o que não me parece algo possível é ter que pagar mil e tal euros de propinas, comprar fotocópias, comprar passe mensal, comprar comida (a lista continua numa ordem conhecida por todos, menos pelo Miguel Gonçalves), e consegui-lo através de 100 euros mensais. O Miguel Gonçalves diz-se sonhador. E de facto é: só a sonhar é que estudar custa 1200 euros por ano. E isto tudo para dizer que Miguel Gonçalves sabe se vender bem, tem o paleio todo e não sabe fazer contas. É um político, no fundo. Coisa que Miguel Relvas a cada dia que passa parece menos saber ser. Parece-me. Um incentivo para o Impulso Jovem é saber que mesmo não se sabendo fazer contas se pode vir a ser embaixador do Impulso Jovem.

http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=640485&tm=9&layout=123&visual=61

quarta-feira, 6 de março de 2013

O Grande Bazar

A Morte é Grave, a Vida é Greve. O Grande Bazar explica.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Os peixes devem andar loucos.

Ontem involuntariamente comi larvas numa laranja, soube apenas a laranja. Nunca meteria a minha boca num anzol, sujeito a morrer, por causa dum pequeno pedaço viscoso que sabe a laranja.
Entre o frio do inverno e o calor do inferno venha o diabo e escolha.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Folia e Fobia

Nunca percebi bem se este dia é de folia ou de fobia. Brindamos por estarmos vivos depois de mais um ano e para entrar anestesiados num novo pacote de dias que virá a ser, segundo as previsões dos experts da economia, ainda mais penoso do que o anterior. Brindamos às certezas que se revelam: sabemos que vamos ficar mais velhos nesta celebração que educa o nosso medo do fim inevitável.
Que se abram então garrafas nesta comemoração do tempo por convenções gregorianas. Caro Papa Gregório XIII, se me lês, o meu obrigado.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A política portuguesa voa tão alto...

....como a ironia de termos um aeroporto com o nome de um político que morreu num desastre de avião.

sábado, 27 de outubro de 2012

O grande pequeno complexo de inferioridade português.


Muito do que é produzido culturalmente em Portugal e que se difunde pelos grandes canais é genericamente entediante. Regurgitanços de formatos gringos, fórmulas batidas e perfeitamente desinteressantes, sem o mínimo de originalidade e valor cultural. Mas, no entanto, sempre digno da ovação popular do "orgulho de ser português", e, em casos mais agudos de pequenez, em afirmar que "tão bom que nem parece português". É preciso surgir algo que obedeça à lógica da grande global máquina de produção cultural, com uma organização estética e ideológica que de português tem absolutamente nada, para que se diga: "orgulho de isto ser português". Parece que parecer português é parecer de pouca qualidade, é parecer inferior ao resto, é não ser evoluído. Andamos todos orgulhosos de nós próprios por conseguirmos parecermo-nos com os outros. O grande pequeno complexo de inferioridade português.
Esse fantasma que nos assombra há séculos: "Portugal já foi grande". O velho Grande Império e o que sobra dele: os resquícios dessas memórias, que nos imprime vergonha na forma de pensar, que nos castra a forma de avaliar as nossas coisas e de como nos vemos no mundo.
"Nem parece português".
Porque não parecer português é um objectivo que temos que alcançar a todo o custo. Porque não parecer português é mais elegante, é mais sublime, é mais sofisticado. Este pastiche cultural, que até mete nojo aos cães, faz de nós cães atrás do osso-do-outro com nojo do nosso próprio osso.
A grande saloia vergonha urbana das raízes, que se estendeu nacionalmente até à mais distante aldeia.
Se não nos orgulharmos daquilo que parece português, se não nos orgulharmos do que é relevante a nível identitário, se não nos orgulharmos daquilo que transporta consigo uma herança cultural nossa, então não sei o que há mais para nos orgulharmos nesta pequena horta ibérica que não produz nada de realmente distinto para além da cultura.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Rádio-Bus

Para se actualizar involuntariamente a nível do cânon pop actual, nada melhor que uma viagem de autocarro de 3 horas e meia. Aquilo é-nos espetado à bruta pelos tímpanos adentro uma atrás da outra, e pronto, como não há por onde fugir, somos obrigados a ouvir, com todas as letrinhas, o que a telefonia nos oferece. Já tentei de tudo. Não há escapatória. Usar phones e tentar ouvir música ao mesmo tempo resulta sempre numa cacofonia Rihanna/psych/noise, que até é interessante, mas desaconselhável para quem vai em movimento; o senhor condutor, muito orgulhosamente, roda o volume num sorriso de serviço público. Não é, caro senhor condutor. Não é. Tentar dormir é um acto imprudente; os sonhos são sempre um misto de David Lynch, reclames publicitários duvidosos e Morangos com Açúcar. Ir para a casa de banho, abafa levemente o som, nunca o eliminado totalmente, mas cheira mal e é um desafio tentar nos manter de pé dentro dum cubículo daqueles em movimento sem tocar em nada. Corre sempre mal, e da pior maneira possível. Próximo passo: obrigar o senhor condutor, à força de arma de fogo, a silenciar o dispositivo ou a coisa corre mal. A coisa corre mal...

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

as almas voavam em vão pelos precipícios do betão-loucura,
mãos erguidas em punho para amaldiçoar a grande configuração.
as rodas mecanizadas, distribuindo ruídos pelas ruas roídas,
ruínas de uma valente nação-valente-hemorroidal.
as faixas-diademas com impropérios contra os impérios
e outros assuntos mais sérios, que cada cavalo a trio
puxa a sardinha à sua brasa.



quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A máscara

Como é que um governo pode cair, se ele não existe? Ou melhor, existe para dar a falsa esperança de pseudo liberdade democrática. Que até manifestações tolera, vejam lá bem. Se o governo cair a máscara cai e nós caímos, agora já sem máscaras que chamam governo, nas mãos do monstro-máquina que nos empresta dinheiro para pagar outros dinheiros emprestados. Portugal irá ser um grande cadáver cortado em peças e enviado para cada reino que o seu quinhão reclama no largo bolo monetário de que hoje comemos. As panças que incham são sempre as mesmas.